domingo, 3 de maio de 2015

As Maias.. num outro Maio



Em tempos idos era costume celebrar-se no 1º de Maio a Festa das Maias.
As Maias estavam associadas aos ritos pagãos e à celebração da fertilidade, já que a terra, mostrava-se agora em todo o seu esplendor de fertilidade. Em Portugal, era costume enfeitarem-se as portas com giestas amarelas, em coroas ou ramos, representando as flores do mês de Maio.
Mais para o norte da Europa, celebra-se o Mayday, construía-se um maypole, e faziam-se danças de roda em torno de um tronco enfeitado de fitas coloridas e flores.
Em tempos ainda mais remotos, lá para os lados dos celtas, celebrava-se Beltane, em danças entusiásticas que reproduziam na dança, a fertilidade que rompia da terra.

E como aqui para estes lados, os campos abundam de giestas amarelas e brancas, planeei com todo o cuidado, uma visita ao bosque: entraríamos por entre os tufos de erva comprida, colhíamos as flores, guardaríamos numa cesta, poderíamos brincar aos castelos atrás dos grandes blocos de granito. Depois da sesta, em casa, iríamos entrelaçar as flores em coroas de flores, faríamos ramos e enfeitaríamos a porta de casa, as nossas cabeças, o carro, a rua, enfim, até as flores terminarem.

E depois, choveu.
E choveu.
E o meu plano escorreu com a chuva, e durante uns bons momentos custou-me a aceitar que já não íamos fazer o que tinha pensado. Às vezes custa libertar-nos das nossas ideias, largar o planeado, aceitar o inesperado.

No dia anterior estava a ler uma entrevista ao Sr. Malaguzzi — o percursor da abordagem pedagógica reggio emilia — que dizia assim, "à medida que optamos por trabalhar com crianças, podemos dizer que elas são os melhores avaliadores e os juízes mais sensíveis dos valores e da utilidade da criatividade. Isso ocorre porque elas possuem o privilégio de não estarem excessivamente vinculadas às suas próprias ideias, que constroem e reinventam continuamente. Elas estão aptas a explorar, fazer descobertas, mudar os seus pontos de vista e apaixonar-se por formas e significados que se transformam."

Por outras palavras, as crianças criam, mas não estão presas ao que criam, têm ideias, mas não estão comprometidas com as suas ideias. Nós adultos, estamos. E quem trabalha ou convive de forma contínua com crianças, sabe que qualquer coisa que seja feita com e para as crianças nunca é um bloco estático, é algo fluído e em transformação.

Por isso querida mamã, está a chover, e vamos ficar em casa. E sim, provavelmente vamos fazer birras, quase de certeza que vamos precisar muito da tua atenção e disponibilidade, e garantidamente, vamos reinventar a nossa sala. E talvez a cozinha também. Ah, e já agora, o chão da sala vai ganhar uma nova coloração.

E sim, a liberdade aprende-se, a par dos seus limites. E ser criança é experimentar e correr e sujar e querer e aprender e tantas outras coisas. E ser mãe é aprender a aceitar (entre outras coisas..).

amor,
Maria

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