sábado, 7 de março de 2015

Brincar sadio

Uma Princesa de longos cabelos ruivos
Rapunzel

Construir uma casa: primeiro as paredes

Construir uma casa: depois o telhado


"É um comboio, filho?" "Não mãe, é um castelo!"

Já começaram. O Gabriel tem 4 anos e já lhe começaram a ensinar as contas, os números.. Chega a casa a contar em voz alta, está constantemente a perguntar-me qual vem a seguir a qual.. Sim, o pensamento lógico chega cedo, não é? Nas pré-primárias já é suposto aprenderem uma série de processos mentais que a minha geração nem sonhava existir até ao 1º/2º ano da primária. O que é que se perde pelo caminho?

Renate Ignácio, no seu livro Criança Querida, O dia a dia da Educação Infantil, diz que brincar está para a criança assim como trabalhar está para o adulto. Com a diferença que o brincar na criança emerge de dentro para fora, enquanto que o trabalhar no adulto surge como uma projeção exterior fruto das necessidades e objetivos individuais.

A autora refere que "o pequeno potencial do pensar, dos três aos cinco anos, não se manifesta num pensar lógico ou abstrato, mas na magnífica fantasia infantil (..). Todos os objetos que ela encontra ao seu redor são transformados, na sua fantasia, naquilo que no momento é necessário (..). Desta riqueza interior surgem muitas perguntas." Assim, salienta que o potencial imaginativo da criança jamais deverá ser aproveitado como forma de educar o pensamento abstrato através da alfabetização, contas, e outros mecanismos que exploram a memória de forma precocemente prejudicial.

Uma professora disse-me uma vez "Uma jovem na puberdade com os seus 12 anos pode efetivamente ser mãe. Mas será que lhe é proveitoso?". As crianças de 3, 4, 5 e até 6 anos, podem efetivamente fazer contas, mas que bem é que retiram dessa atividade? Qual é a pressa? Tudo tem um tempo para acontecer, e assim como cada mulher tem o seu próprio momento para ser mãe, também a criança tem o seu próprio momento para se desenvolver intelectualmente. Tudo o que é feito de forma precoce resulta apenas em dano para a criança.

"Brincando, a criança imita o trabalho, os gestos do adulto. Assim, ela descobre o mundo. Ela vivencia as suas leis sem fazer conceitos lógicos sobre elas. Quando ela brinca com a água, experimenta como se formam as gotinhas e vê como o sol brilha nelas. Ou joga pedrinhas numa poça de água e acompanha os círculos concêntricos que vão se formando (..). 
Se o adulto tenta levar estas experiências à consciência da criança, formulando com ela leis básicas de física, ele estraga a brincadeira, afastando a criança da ação e do movimento (..). A criança pequena é inteiramente força de vontade. Ela só quer agir, transformar, brincar. Nunca pára quieta. 
Se o adulto apoia essa força de vontade, dando espaço para a criança brincar sadiamente, quando a criança se tornar adulta também terá vontade de agir e de transformar o mundo. Hoje em dia, muitas vezes só se dá valor à inteligência e, quando se pensa em educação, pensa-se em educação do pensar lógico. Mas o homem não é só feito de cabeça, ele também tem coração e membros. Ele não só pensa, como também sente e age."

Quando eu vejo o Gabriel a inventar e reinventar o mundo dele, a carregar coisas de um lado para o outro, a pedir-me ajuda para concretizar uma brincadeira, quando eu o vejo a transformar qualquer coisa à sua volta para chegar a algo que nasceu da sua imaginação, eu sinto um calor enorme no coração e sei que ele está bem.

Amor,
Maria

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