terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Histórias de Natal

Durante o Advento tenho contado ao Gabriel as maravilhosas histórias de Karin Stasch, da coleção de Contos para o Advento e Natal e Noite de Luz. São histórias muito simples, que transmitem um genuíno espírito de Natal.

Entretanto, estive a pesquisar na internet, e fiz uma seleção de histórias de Natal, algumas tradicionais, outras de autores portugueses, para contar ao Gabriel durante a noite de Natal. É tão bom que as crianças, e nós adultos, sintamos este espírito de Natal através de valores eternos, através de mensagens, que transmitam um verdadeiro espírito de amor e de partilha. Entre as histórias que escolhi, procurei que este espírito de Natal estivesse presente.

Uma estrela na noite escura

Esta bonita história de Natal existe na sua versão completa no Preparando o Natal, um excelente blog que oferece inúmeras histórias de autores portugueses e estrangeiros sobre o Natal e Advento. Tem histórias para os mais pequeninos, e meditações sobre a época natalícia.
Fiz uma adaptação desta história para poder contá-la ao Gabriel. Como ele ainda tem quatro anos,  não lhe consigo contar histórias demasiado longas ou com muito detalhes, pois a atenção dele não se mantém ativa durante muito tempo. Aqui vai a história, com umas pequenas alterações:

Matias sentou-se, muito encolhido. Todos os pastores tinham partido e ele ficara sozinho.

— Ficas a tomar conta das ovelhas — dissera o velho Simão antes de se fazerem ao caminho. 
— Já és suficientemente crescido.

O seu colega Tobias ainda lhe metera medo, sussurrando:

— E quando os lobos vierem, não fujas.

O facto é que Matias tinha medo. Há já alguns dias que o uivar do lobo ecoava até ao vale e aquela noite parecia-lhe agora mais escura do que as outras…

Mas talvez fosse por causa da luz estranha que brilhara há pouco, por volta da meia-noite.

De um momento para o outro, o céu ficou muito claro e brilhante. As estrelas começaram a dançar e a lua deu uma cambalhota. Os pastores ficaram cheios de medo e até o velho Simão começou a tremer.
Só que, depois, aparecera no céu uma figura de luz que lhes disse:

— Não tenham medo. Trago-vos uma boa notícia. Alegrem-se, pois hoje nasceu Jesus Cristo, o Salvador. Que a paz esteja na terra!

Matias ouvira muito bem: a voz falara de um menino envolto em panos que estava deitado numa manjedoira e dissera que tudo tinha acontecido em Belém.

De repente, o céu inteiro tinha brilhado qual manto de ouro. Ouviram-se sons maravilhosos, uma música ímpar soara. E os pastores partiram: queriam ver o menino no presépio e levar-lhe prendas.

Só Matias é que ficou para tomar conta dos rebanhos.

A luz apagara-se há muito tempo, e agora encontrava-se sozinho na escuridão. Matias tinha recebido de Simão uma tarefa importante: devia contar as ovelhas quando passavam para dentro da cerca. Colocava-se de pernas abertas em cima das pedras que estavam à direita e à esquerda da porta e, de cada vez que uma ovelha passava, dava-lhe uma palmada e contava em voz alta. Ia de um a duzentos e trinta e um. Quando estavam todas dentro da cerca, a saída era fechada com silvas.

— Eu conheço-as e elas conhecem-me a mim — dizia ele com orgulho.

Matias subiu para o muro. As ovelhas tinham-se deitado. De repente, soou bem perto um longo uivo. Matias agarrou no seu cajado e disse para si mesmo “Se aparecer um lobo, varro-os a todos com o meu cajado!” Mas as ovelhas não ergueram as cabeças. Matias agarrou com mais força no cajado. Olhou fixamente para a escuridão. O olhar não via muito longe, mas não avistou sombra alguma de lobo. Admirou-se que as ovelhas não se tivessem erguido de um salto nem balissem de medo e se juntassem, como faziam sempre que os lobos se aproximavam.

Ter-se-ia enganado? Não haveria lobo nenhum?

Mas as dúvidas dissiparam-se e então pode ver com nitidez: perto dele, seis, sete sombras escuras deslizaram furtivamente e entraram, saltando o muro. Os lobos! Matias foi então tomado pelo medo.

Fugir, foi a primeira coisa que pensou, mas ficou como que paralisado em cima do muro. Reinava um silêncio invulgar. As ovelhas tinham-se levantado mas estavam calmas, e os seus balidos baixos não soavam a gritos de medo. Caminhou com passos pequeninos por cima do muro de pedra e aproximou-se do local por onde os lobos tinham saltado. Tinha o cajado levantado, pronto para bater. Depois, olhou melhor. Seria verdade, ou estava a ter um sonho bonito?

O rapazinho bateu com o cajado na própria cabeça. Não, não estava a dormir. Fascinado, olhava para uma cena tão bela quanto pacífica: os lobos tinham-se colocado em círculo, com as caudas juntas, e os focinhos virados para as ovelhas. Estas farejavam os lobos e não mostravam o menor sinal de medo. Em seguida, uma após outra, voltaram a deitar-se. Os lobos também se deitaram e ali estavam, lobo ao lado de ovelha, ovelha ao lado de lobo….

De repente, os lobos levantaram-se e espetaram os narizes no ar.

— Estamos muito inquietos… — rosnou um.

Galgaram o muro e desapareceram na escuridão. Logo de seguida, Matias ouviu Simão e os outros pastores que regressavam.

Matias contou-lhes o que vira e ouvira. Tobias riu-se dele e disse:

— Preguiçoso, de certeza que adormeceste e sonhaste.

— Cala-te! — disse Simão a Tobias. 
— Já te esqueceste que os anjos anunciaram a paz? Já te esqueceste de tudo? Matias viu um lampejo dessa luz da paz com os próprios olhos.

— Mas não vi o menino na manjedoura — disse Matias.

— Consegues ver aquela estrela clara, ali, no céu? — perguntou-lhe Simão.

— Claro, Simão, tem um brilho muito mais claro do que nas outras noites.

— Se quiseres, Matias, corre na direção que a estrela te indica. Vais encontrar o estábulo e a manjedoira, o menino, Maria e José.

— Assim sozinho, pela noite escura?

— Só se tu quiseres — respondeu-lhe Simão.
Matias ainda hesitou, mas depois ergueu-se, segurou no cajado com força e partiu.

Depois de muito andar, Matias estava cheio de medo e começou a tremer…

— Se tivesse ficado ao pé das ovelhas… — lamentava-se.

Estava para dar meia volta quando viu, desviado do caminho e não muito longe dele, o estábulo.

E nele entrou.

Maria embalava o menino. José sentara-se a um canto e dormia. O boi e o burro, que também estavam no estábulo, fungavam e tinham os olhos semicerrados. Maria reparou no jovem pastor e acenou-lhe com a mão para que se aproximasse. Matias chegou muito perto do menino. Maria pegou-lhe na mão e disse:

— Se quiseres, podes-lhe fazer uma festa.

Matias poisou o dente no cobertor e tocou cautelosamente com um dedo na cabeça do menino. Foi percorrido por uma enorme alegria e sentiu o seu medo a desaparecer…
 E ficou a contemplar o menino.

— Tenho de voltar para junto do rebanho — sussurrou por fim a Maria.

— Não te esqueças do teu cajado — lembrou-lhe ela.

Matias hesitou um instante. Depois disse, baixinho:

— É a minha prenda para o menino.

Abandonou o estábulo e saiu para a noite.

No céu, a este, a luz do novo dia mostrava-se timidamente. Matias desatou a correr. Todo ele rejubilava. O medo tinha desaparecido por completo. 
Os pastores dormiam e só Tobias estava sentado perto do fogo.

— Então? — perguntou. 
— Tiveste medo? O que aconteceu ao teu cajado?

— Já não preciso dele. Deixei-o ao menino. Já não tenho medo.

O Nascimento de Jesus

Adaptei esta história a partir do Evangelho segundo Lucas sobre o nascimento de Jesus na Noite Santa:

Durante aqueles dias, ordenou o imperador que todos se recenseassem, cada pessoa na terra onde havia nascido.

Um homem já de idade avançada, chamado José, partiu de Nazaré com a sua mulher Maria, até à longínqua cidade de Belém, onde havia nascido. Maria estava grávida e muito lhe custou a viagem, que durou muitos dias. Lentamente percorreram montes, vales e rios, em cima de um burrito, que às vezes teimava em parar de andar para comer um pouco de erva fresca, ou porque, ou porque, pressentia o movimento dos vultos dos lobos por entre os ramos das árvores. Mas Maria e José eram abençoados, e não havia entrave que a divina sorte não resolvesse. Assim, pacientemente prosseguiam viagem.  

Ora, quando chegaram a Belém, não havia lugar algum nas hospedarias da cidade. Quando por fim encontraram uma humilde manjedoura, ficaram muito satisfeitos por poderem descansar. A cada dia que passava, Maria sentia a sua barriga pesar, e as forças da terra chamavam a criança.

Um dia, o Menino nasceu. Maria envolveu-o em panos quentes, embrulhou-o para que nem a brisa do luar despertasse o Menino do seu abençoado sono. José afofou as palhinhas, e deitaram-no na manjedoura de madeira velha.

Na mesma região, num vale de ervas tenras onde os animais pastavam, pernoitavam pastores que guardavam as suas ovelhas. Um Anjo de Luz apareceu-lhes e disse-lhes:
— Não tenham medo. Venho-vos trazer uma boa nova: nasceu um Menino, aqui em Belém, que será o Salvador de todos os homens, o Mensageiro de Deus.
Os pastores, ainda um pouco assustados perguntaram:
— E como o encontramos?
— Procurai por um menino envolto em pobres panos, deitado numa manjedoura.
Iam os pastores a preparar-se para partir, e viram o Anjo ascender aos céus, para se reunir a outros tantos anjos, e deles, brilhava uma luz tão forte, tão clara, e tão límpida, que perceberam que a mensagem do Anjo era sim verdade.

Depois de muito perguntarem e procurarem, encontraram por fim o Menino Jesus. Saudaram-no com grande alegria, e beijaram e abraçaram Maria e José. Depois foram-se embora, e a todas as pessoas que iam encontrando, contavam a notícia que o Anjo de Luz lhes tinha contado: o Salvador dos homens, filho de Deus, tinha nascido.

A Estrela humilde


Esta história é ótima para contar ao pequeninos. Transmite uma mensagem de humildade de uma forma muito simples e verdadeira. A história é da autoria do Professor Vaz Nunes, da Escola de Ovar, que tem feito um excelente trabalho de compilação de recursos em diversas áreas da educação. O site Escolovar, reúne um extenso compêndio de recursos para professores, educadores e pais. Aqui vai a história:

De todas as estrelas que brilham no céu, houve sempre uma mais brilhante e bela que todas as outras. Todos os astros do céu a contemplavam com admiração e interrogavam-se sobre qual seria a missão importante que lhe estaria destinada. A própria estrela, sem falsa modéstia, estava consciente da sua incomparável beleza e da sua importância no Universo. As dúvidas desfizeram-se num dia de Dezembro, quando um grupo de anjos se aproximou dela e lhe disse:
— Por favor, vem connosco. Deus tem uma missão para ti.

 
Foi assim que ela ficou a saber que deveria indicar e iluminar o lugar onde teria lugar um acontecimento muito importante, o mais importante da História.
 A estrela encheu-se de orgulho, vestiu-se com os melhores brilhos e prontificou-se a seguir os anjos. Brilhava com tanta força e beleza que podia ser vista de todos os lugares da Terra.
 De imediato, um grupo de sábios decidiu segui-la, sabedores de que deveria indicar algo de importante.

 

Durante dias, a estrela seguiu os anjos, indicando o caminho, ansiosa por descobrir como seria o lugar que iria iluminar. Porém, quando os anjos pararam e, com grande alegria, lhe disseram «É aqui», ela não queria acreditar. Não havia templos, palácios, castelos ou mansões nem ouro ou jóias. Só um pequeno estábulo meio abandonado, sujo e a cheirar a mofo.
— Oh! Isto não. Não posso desperdiçar o meu brilho e a minha beleza,  iluminando um lugar como este. Eu nasci para algo mais grandioso!

 

Por mais que os anjos se esforçassem por acalmá-la, a fúria da estrela cresceu, cresceu, cresceu e chegou a juntar tanta soberba e orgulho no seu interior que começou a arder. E assim se consumiu a si própria, desaparecendo em poucos instantes.

 

Os anjos ficaram em pânico, pois faltavam poucos dias para o grande acontecimento e não tinham estrela. Correram até ao Céu e contaram a Deus o que tinha ocorrido. Depois de meditar um pouco, Deus ordenou:

— Procurai a mais humilde, a mais pequena, a mais alegre das estrelas do Céu. Surpreendidos, os anjos atravessaram o céu escuro, até encontrarem a estrela pedida pelo Senhor. Era pequeníssima, do tamanho de um grão de areia.

— A estrela mais perfeita da criação, a mais brilhante e mais bela, falhou pela sua soberba.  Penso que tu, a mais humilde e alegre de todas as estrelas, serás perfeita para iluminares o acontecimento mais importante da História: o nascimento do Menino Jesus, em Belém.  – disse-lhe Deus.

 

Os anjos levaram-na até ao estábulo, onde ela ficou a brilhar, mas, de imediato, deu conta que o seu brilho não tinha o fulgor das outras estrelas. Era um brilho ténue, insignificante, como o de uma candeia. A estrela bem se esforçava, mas era incapaz de brilhar mais.
 Como era humilde, lembrou-se de convidar todas as estrelas do Céu para se juntarem a ela no dia vinte e cinco de Dezembro, à meia-noite. Em conjunto, iluminariam o nascimento de Jesus.
 Nenhuma estrela recusou o convite. E tantas e tantas estrelas se juntaram que entre todas formaram a estrela de Natal mais bela jamais vista no Céu.

 

Encantado com o seu excelente serviço, e como prémio pela sua humildade e generosidade, Deus converteu a pequena mensageira numa preciosa estrela brilhante deu-lhe o dom de conceder desejos cada vez que alguém a visse  brilhar no céu.
 


Feliz Natal e muito Amor,
Maria


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