sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Celebrar o Natal



Não sei o que acontece nesta altura do ano, começa como um burburinho com tendência a tornar-se cada vez mais ruidoso, até chegar o dia, de Natal. Desde que sou mãe (4 anos..!já?!), que o Natal assumiu outra posição na minha vida. Passou o tempo dos vinte anos em que o Natal era uma data obrigatória, até forçada, a representar ligações familiares que eu, sinceramente, não sentia. Lembro-me de quando trabalhava no call-center, movido à força de trabalho de jovens adultos, e de como esperávamos ansiosamente que o nosso chefe atendesse aos nossos pedidos, e nos desse a noite da passagem de ano, em troca da noite de Natal. Lembro-me de numa noite de véspera de Natal, estar a empurrar o meu fiel carro de 15 anos pela Almirante Reis abaixo, porque a bateria havia decidido descansar, na tentativa de chegar a casa da minha mãe antes do jantar de Natal (ups!). E lembro-me de uma outra noite, em que conduzi um milhão de horas quase seguidas de Barcelona a Lisboa para chegar a tempo do Natal! E consegui! Consegui chegar às 23:45 (tenho de me lembrar de não atirar os meus filhos pela janela, se me fizerem qualquer coisita do género..)!

Num belo dia Novembro fui mãe pela primeira vez, e o Natal seguinte já não foi o mesmo. Assim como em tantas outras coisas, aquela atitude de abandono tão próxima do adolescente face a qualquer coisa que envolva "tradição" e "imposição", teve que ser deixada à porta (eu não queria...hehe). Como mãe de filhos, não só és responsável pela celebração natalícia dos teus filhos, como tens que responder às solicitações familiares e gerir datas e locais (mais ou menos como no jogo das damas, uma vez as pretas outras as brancas). Quando os pais das crianças não são uma família, mas duas, ainda há mais berlindes para jogar, e sim, o Natal pode ser exaustivo.. Felizmente não tem sido o caso.

No livro Adventures in Parenting, a Rachel Ross reforça o poder que as tradições e rituais familiares têm na formação da vontade na criança. A autora refere que as celebrações familiares constituem um momento de excelência, para ensinarmos aos nossos filhos respeito pela natureza, pelos outros e por eles mesmos. "A experiência de reverência constrói um manancial de força e segurança na alma da criança. Será mais tarde na vida, a fonte de um sentido moral saudável. As crianças também desenvolvem um sentido de beleza e verdade através das celebrações e do cuidado que os adultos têm ao criar ambientes belos para eles." 

Após conhecer a pedagogia Waldorf, e o ciclo de celebrações que integram a criança no ritmo anual, proporcionando-lhes a possibilidade gerar um sentimento de devoção interior a algo superior e sagrado, a celebração do Natal começou a mudar em mim. Alguém disse uma vez que nós crescemos mais com eles (os filhos), do que provavelmente eles connosco. Acredito que assim seja.

Assim, passei de uma atitude de negligência para com o Natal, para um momento de aceitação e abertura. Enquanto trabalhei num Jardim Waldorf, tive oportunidade de vivenciar com as crianças a chegada do Natal. Observei como continuamente, algo é adicionado ao dia-a-dia, transformando a contagem dos dias numa imagem interior, presente nas canções, na roda rítmica, na mesa da estação, e nas atividades quotidianas. O Advento, como o nome indica, é o tempo que antecede o Natal. Quatro domingos antes do Natal dá-se início a um período de expetativa e preparação para uma das maiores celebrações (atualmente a maior) do calendário cristão. Assim, no meu ponto de vista, o Natal não existe sem um período de antecipação, de preparação gradual através de rituais e pequenas transformações que conduzem a criança, de forma inconsciente, para a celebração desta festa.

Beijo,
Maria.

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