segunda-feira, 20 de julho de 2015

Quando eu cheguei era assim



Esta oscilante sensação de partida, levou-me a olhar para atrás em retrospetiva. Lembro-me de como foi quando aqui cheguei, vêem-me à cabeça imagens dos momentos, da intensidade marcante do primeiro ano, e consigo ver, de uma perspetiva mais segura, a solidez emocional que viver aqui me assegurou.
Foi num dia de Inverno, que passei pela porta da frente, senti o frio dentro de casa, olhei para as teias de aranha que decoravam as esquinas das paredes, e a minha vontade encolheu-se ante os meus olhos, e fingiu que não estava. Felizmente, o pai dos meus filhos, que veio para me ajudar, conseguiu ajuda-la a sair cá para fora, num rasgo de optimismo e força de trabalho.
A primeira noite que passei aqui sozinha com o Gabriel, corri à casa da minha vizinha, "Como é que faço um fogo?". Aprendi. Durante as primeiras duas semanas que vivi aqui, num mês de Fevereiro, o Vento Norte deu as mãos ao Rei do Inverno e desceram à terra. Uma manhã acordámos e o tal manto branco tinha coberto toda a terra. Os flocos caíam e durante 3 dias não saímos de casa.
Após estas duas semanas — e como elas permanecem longas na minha memória! — decidi que não conseguia. Longe da família, amigos e qualquer apetecível contato social, tendo por vizinha uma velhota de 70 e poucos anos, não muito dada a sorrisos, achei que não era capaz de criar raízes. Aliás, raízes, são mesmo algo que eu nunca havia conseguido criar de qualquer maneira. Que flor é que nasce no meio do gelo, no meio das rochas? E a verdade, é que tenho encontrado brilhantes flores selvagens a crescer no meio dos castanheiros (que têm picos e gostam do frio), e são fortes e resistentes.
As duas semanas converteram-se em "até Setembro", e de 8 meses passaram a 3 Invernos, e agora, irão se alongar por mais um ano.
Tenho saudades de casa, muitas saudades de tantas pessoas que passaram pela minha vida e que moram nos atalhos da memória. Tenho saudades do acaso das ruas da cidade, da surpresa de encontrar alguém, da vitalidade de conhecer alguém. Mas ganhei alguma maturidade emocional para ser capaz de reconhecer que sentiria mais saudades dos meus filhos, se estivesse aí. E assim, por enquanto, aqui sou feliz.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...