sábado, 28 de fevereiro de 2015

Um conto para o Inverno: Shingebiss

Este é um conto índio de Chippea, narrado e recolhido por Heidi Bieler, no livro Cuentos para Chiquitines, e pode ser comprado aqui. O livro está em espanhol, mas é fácil de traduzir, e sem dúvida que vale a pena. Tem uma coleção de contos adequados a todas as épocas do ano, tradicionais de vários países do mundo e por isto, transmitem uma mensagem implícita envolta de imagens simples e ternas. São contos/histórias para crianças que têm um significado, uma intenção, não a de entreter, mas a de educar.

Ah, coloco aqui uma tradução livre do espanhol para o português.

Na sua toca nas margens do lago Hurón, vivia um patito castanho, Shingebiss. Quando o feroz vento norte descia veloz do país reluzente da neve, Shingebiss, o patito castanho, tinha preparados quatro bons troncos de lenha para o fogo da sua lareira. Shingebiss era valente e cheio de energia. Não lhe importava de que forma bramava o Vento Norte, pois ele sempre andava como andam os patos através do gelo, e encontrava o alimento necessário. Quebrando a superfície do gelo que se formava no seu pequeno lago, buscava através dos buracos que restavam abertos e procurava o seu peixe para jantar. Logo voltava à sua toca arrastando uma corda de peixes atrás de si. Sentado ao lado do seu resplandecente fogo, preparava o seu peixe para jantar e instalava-se comodamente e aquecido.
Finalmente o Vento Norte gritou: — Huuu, huuu! Quem se atreve a desafiar o Grande Vento Norte?
 Todas as criaturas tinham medo dele, exceto Shingebiss, o patito castanho, que tratava o Vento Norte como se fosse um ventozito de nada.
Assim, o Vento Norte mandou rajadas frias, geladas, formando altos montes de neve, até que nenhum pássaro ou animal se atrevia a sair em socorro de Shingebiss. Contudo, Shingebiss saía como todos os dias, sem se deixar aborrecer com o tempo. A cada dia encontrava o seu peixe, e a cada noite preparava o seu jantar e aquecia-se à beira da lareira.
— Ah! — encolerizou-se o Grande Vento Norte — o pequeno pato castanho, Shingebiss, não faz caso nem da neve nem do gelo. Vou congelar o seus buracos, e assim não encontrará o seu alimento, e então o conquistarei!
Assim, o Vento Norte congelou as aberturas por onde o patito castanho pescava e cobriu de neve o seu lago.
Mas quando Shingebiss encontrou os seus buracos fechados impedindo-lhe de chegar à àgua, nem sequer se importou. Simplesmente, seguiu o seu caminho animadamente até encontrar um outro lago não havia neve. Então afastava o gelo e abria novos buracos para mergulhar pescar.
Pato castanho, já vais ver quem manda aqui! — uivou o Vento Norte cheio de ira. E durante dias e dias seguiu o patito castanho. Gelava os seus buracos no gelo e cobria os lagos com neve.
Mas Shingebiss continuava em frente sem medo, com sempre havia feito. Todas as vezes conseguia apanhar um par de peixes antes que o buraco gelasse. E, como sempre, voltava animado a casa, arrastando os peixes atrás de si.
Huuu, huuu! — braou enfurecido o Vento Norte — irei até à toca do pequeno pato castanho, Shingebiss, soprarei à sua porta, sentar-me-ei ao seu lado e soprar-lhe-ei um vento gelado até que se congele.
Nesse mesmo instante, Shingebiss havia terminado o seu jantar e estava comodamente sentado ao lado do ardente fogo, aquecendo as suas patitas.
Cuidadosamente, contendo a respiração para que Shingebiss não o ouvisse, lenta e muito lentamente, Vento Norte deslizou até à toca de Shingebiss. Mas Shingebiss sentiu o frio que chegava através das arestas da porta.
"Já sei quem está aqui", pensou, e começou a cantar com vigor:
Vento Norte
vento feroz,
 por muito que sopres
és como eu.
Sopra o que possas
tenta-me gelar
eu não tenho medo,
tenho liberdade.
O Vento Norte não se podia conter de raiva, mas baixou a sua voz até sussurrar e disse: — O Vento Norte vai-te congelar!
E assim Vento Norte deslizou por debaixo da porta até chegar onde estava Shingebiss e sentou-se ao lado do fogo. Shingebiss soube que estava ali, mas não se importou nem um bocadinho. E continuou a cantar.
Não me irei embora até que estejas congelado! — murmurou o Vento Norte e soprou o seu sopro mais gelado. Mas nesse mesmo momento Shingebiss inclinou-se e agitou o seu fogo. Levantou-se uma chuva de faíscas que iluminaram a sua toca de vermelho dourado.
E de repente o cabelo encharcado do Vento Norte começou a gotejar, lágrimas corriam das suas bochechas, a sua respiração poderosa foi-se debilitando. Mas Shingebiss continuava a aquecer as suas patitas nas chamas e cantava:
Vento Norte
vento feroz,
 por muito que sopres
és como eu.
Sopra o que possas
tenta-me gelar
eu não tenho medo,
tenho liberdade.
Subitamente, o Vento Norte uivou: — Estou a derreter-me!
E saiu precipitadamente pela porta, caindo em cima de um montão de neve.
Que estranho pato castanho, Shingebiss, — sussurrou debilmente para si mesmo não o consigo gelar, não o consigo assustar.
Huuu, o deixarei tranquilo!
O Grande Espírito está com ele!


Resiliência, perseverança e coragem,
Maria


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